
Pe. Sebastião Alaertes B. de Camargo – Administrador Paroquial.
O mês de setembro é um mês que nos convida a refletir sobre temas bem atuais para a nossa vida e também para a situação que estamos vivemos enquanto país.
Setembro é considerado o mês da Bíblia por excelência, mês da Pátria, porque comemoramos a Independência do Brasil, data que ficou conhecida pelo episódio do “Grito do Ipiranga”, e também marcado pelo 24º Grito dos Excluídos/as, que tem como tema: Vida em Primeiro Lugar!, e como lema: “DESIGUALDADE GERA VIOLÊNCIA: BASTA DE PRIVILÉGIO”.
Aqui gostaríamos de dar ênfase para esses três acontecimentos, acreditando que uma boa reflexão possa nos ajudar a valorizar aquilo que faz parte do nosso cotidiano (Bíblia), para nos ajudar a enfrentar com mais coragem as situações que vivemos como pátria e que faz milhares e milhares de pessoas, tornaram-se excluídas e deixadas a margem da sociedade.
Para que possamos vivenciar bem esse mês da Bíblia, oferecemos aos nossos leitores um pequeno percurso que a Igreja fez, em relação ao tema e lema escolhido e da importância de sua reflexão.
Como nasceu o Mês da Bíblia?
O Mês da Bíblia surgiu em 1971, por ocasião do cinquentenário da Arquidiocese de Belo Horizonte, Minas Gerais. Foi levado adiante com a colaboração efetiva do Serviço de Animação Bíblica – Paulinas (SAB), até posteriormente ser assumido pela Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB) e estender-se ao âmbito nacional.
Objetivos:
– Contribuir para o desenvolvimento das diversas formas de presença da Bíblia, na ação evangelizadora da Igreja, no Brasil;
– Criar subsídios bíblicos nas diferentes formas de comunicação;
– Facilitar o diálogo criativo e transformador entre a Palavra, a pessoa e as comunidades.
No período entre 2016 e 2019, conforme proposta do Documento de Aparecida, a nossa Igreja está aprofundando a segunda parte da proposta pastoral: “Ser Discípulos Missionários de Jesus Cristo, para que nele nossos povos tenham vida”. O tema central durante estes quatro anos é sempre o mesmo: “em defesa da vida”. Seguindo essa proposta, em 2018, o tema central é “A Sabedoria em defesa da Vida”, e o lema: “A Sabedoria é um espírito amigo do ser humano” (Sb 1,6). Ou seja, a Sabedoria é uma expressão da amizade de Deus por nós, seres humanos. O livro da Bíblia que vai nos ajudar no aprofundamento deste tema é o livro da Sabedoria.
Eis o esquema do Mês da Bíblia nesses quatro anos:
* 2016: A Profecia em defesa da vida – livro do profeta Miqueias
* 2017: A Comunidade em defesa da vida – 1ª carta os Tessalonicenses
* 2018: A Sabedoria em defesa da vida – livro da Sabedoria
* 2019: O Amor em defesa da vida – 1ª carta de São João
O livro da Sabedoria, está entre os textos escritos já no final do período do Antigo Testamento, num momento fundamental do diálogo entre o judaísmo e a cultura grega. Neste sentido, ele é um bom predecessor do NT. Por isso, a sua língua é o grego e pertence aos chamados livros Deuterocanônicos, por se encontrar apenas na Bíblia grega e, consequentemente, não entrar nem no Cânon judaico (da Bíblia hebraica) nem, mais tarde, no Cânon das igrejas protestantes.
Atribuído a Salomão em algumas versões e manuscritos antigos, o livro da Sabedoria é certamente da responsabilidade de um autor anônimo bem distante de Salomão no tempo, que não poderá situar-se para além do ano 50 a.C. (entre 150 e 50 a.C.). Isso manifesta-se nos indícios de caráter literário e histórico. Provavelmente, o autor foi um judeu de Alexandria, no Egito – onde residia uma forte comunidade judaica – que utilizou o pseudônimo. Como fruto dessa comunidade, o livro está marcado culturalmente por uma forte influência helenista.
O autor conhece, por um lado, a História do seu povo e a fé num Deus sempre presente e pronto a intervir nela; e por outro, sente a forte atração que as principais filosofias helenísticas e as diversas religiões exercem na vida dos seus irmãos de raça e de fé. Por isso, tenta estabelecer o diálogo entre fé e cultura grega (6-8), de modo a sublinhar que a sabedoria que brota da fé e conduz a vida dos israelitas é superior à que inspira o modo de viver dos habitantes de Alexandria. Com este livro, o autor dirige-se, pois, a dois destinatários diferentes: aos judeus de Alexandria, direta ou indiretamente perseguidos pelo paganismo do ambiente; e aos próprios pagãos, sobretudo aos intelectuais helenistas, mais abertos à cultura hebraica, intentando, porventura, convertê-los ao Deus verdadeiro.
07 de Setembro – Independência do Brasil
Foi no dia sete de setembro de 1822, às margens do riacho do Ipiranga, que o Imperador Dom Pedro I proclamou a Independência do Brasil formalizando a separação com Portugal.
A Independência do Brasil é o feriado em que se celebra a emancipação brasileira do reino de Portugal. O Dia da Independência do Brasil se comemora no dia 7 de setembro de 1822, data que ficou conhecida pelo episódio do “Grito do Ipiranga”.
Depois de muitos conflitos, e passados mais de dois anos, Portugal finalmente reconheceu a independência brasileira, com o Tratado de Paz e Aliança assinado entre os dois países.
A comemoração deste dia visa o despertar da consciência do povo e seu desejo de reivindicar a Pátria como patrimônio seu, valorizando não só de pessoas que fazem parte da nossa nação, mas de tudo e todos que compõem a diversidade que chamamos Brasil.
24º Grito dos Excluídos/as
A proposta do Grito surgiu no Brasil no ano de 1994 e o 1º Grito dos Excluídos foi realizado em setembro de 1995, com o objetivo de aprofundar o tema da Campanha da Fraternidade do mesmo ano, que tinha como lema “Eras tu, Senhor”, e responder aos desafios levantados na 2ª Semana Social Brasileira, cujo tema era “Brasil, alternativas e protagonistas”. Em 1999 o Grito rompeu fronteiras e estendeu-se para as Américas.
O que é
O Grito dos Excluídos é uma manifestação popular carregada de simbolismo, é um espaço de animação e profecia, sempre aberto e plural de pessoas, grupos, entidades, igrejas e movimentos sociais comprometidos com as causas dos excluídos.
O Grito brota do chão e encontra em seus organizadores suficiente sensibilidade para dar-lhe forma e visibilidade. O Grito não tem um “dono”, não é da Igreja, do Sindicato, da Pastoral; não se caracteriza por discursos de lideranças, nem pela centralização dos seus atos; o ecumenismo é vivido na prática das lutas, pois entendemos que os momentos e celebrações ecumênicas são importantes para fortalecer o compromisso.
Por que 07 de setembro
Desde 1995, o Grito dos Excluídos realiza-se no dia 7 de setembro. É o dia da comemoração da independência do Brasil. Nada melhor do que esta data para refletir sobre a soberania nacional, que é o eixo central das mobilizações do Grito.
Nesta perspectiva, o Grito se propõe a superar um patriotismo passivo em vista de uma cidadania ativa e de participação, colaborando na construção de uma nova sociedade, justa, solidária, plural e fraterna. O Dia da Pátria, além de um dia de festa e celebração, vai se tornando também em um dia de consciência política de luta por uma nova ordem nacional e mundial. É um dia de sair às ruas, comemorar, refletir, reivindicar e lutar. O Grito é um processo, que compreende um tempo de preparação e pré-mobilização, seguido de compromissos concretos que dão continuidade às atividades.
Mais essas comemorações ou reflexões não teriam sentindo se o nosso pano de fundo não fosse um trecho do Evangelho de João, do 21º domingo do tempo comum, que me parece ser bem apropriado para esse momento: “Senhor a quem iremos? Só tu tens palavras de Vida eterna” (Jo 6,68)