Recentemente comecei a me perguntar o porquê de não haver mais grandes líderes Católicos (exceção feita ao Papa Francisco) e percebi que, em um mundo em transição de gerações, não há notadamente tantos grandes líderes que se possam destacar em nenhuma área humana. Com as recentes homenagens a Mandela e a já tradicional cobertura de sua morte por meio da imprensa sensacionalista, fica difícil não ver o líder Sul-Africano quase como um santo. Quase, pois como ele mesmo em vida admitiu, ele não quis e não foi santo.
Enfim, a esse Mandela, que realmente foi um líder, um líder sobretudo “humano”, uma expressão me chamou a atenção nestes últimos dias: “Madiba”,o nome tribal que os sul-africanos usam com carinho para se referir ao seu primeiro presidente negro, não foi uma estátua, apesar das recentes lembranças de seus atos pacifístas em reportagens, resumos e filmes lançados a pouco tempo (como Invictus, por exemplo), que detalham apenas parte de sua história.
Mandela declarou no julgamento que o condenou a prisão: “Eu lutei contra a dominação branca e contra a dominação negra. Eu valorizo os ideais de uma sociedade livre e democrática, na qual todas as pessoas vivam juntas em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal pelo qual espero viver, para ser realizado. Mas, se for necessário, é um ideal pelo qual estou pronto para morrer “. Foi apontado como terrorista pelo governo dos Estados Unidos, por tentar vencer a segregação racial do regime do apartheid através da Revolução armada, criando “A Lança da Nação”, o braço armado do CNA – Congresso Nacional Africano, partido com o qual ele liderou a luta dos sul-africanos negros (e alguns poucos brancos) contra o apartheid. E após vária ações violentas (aproximadamente 134 ações ) em 1963 acabou preso e, em 1964, condenado a prisão perpétua. Passou 27 anos na prisão apenas por defender seus ideais.
Em 1990, finalmente, Mandela é libertado. E saiu da cadeia não para protestar, mas para apertar a mão de Frederik Willem de Klerk, então presidente do regime de apartheid. Mandela e De Klerk comandaram, em dois anos, tensas negociações para a formulação de uma nova Constituição e para a convocação de eleições, ao mesmo tempo em que tentavam conter os confrontos entre diferentes facções da população negra e a ação de radicais brancos (os dois acabam ganhando um Prêmio Nobel da Paz em conjunto por seus esforços). Por fim as negociações para o fim do apartheid culminaram com a realização de eleições multirraciais em 1994, em um processo pacífico de transição que em seu final levou o CNA e Mandela ao poder.
O resto da história todos conhecem: Mandela tornou-se adorado pelo povo sul-africano e era visto como o cimento que mantinha a nação unida. Com a sua morte, surgem dúvidas sobre como vai ser o futuro de uma África do Sul onde a violência racial ainda não parece ter desaparecido totalmente, mas onde o exemplo conciliador de Mandela é um argumento tão forte que poucos ousam ignorar.
Por ora é tempo do mundo chorar um grande homem, um exemplo tremendo para a humanidade. A morte de um líder nato, um gigante e um herói, mas sobretudo um líder que ousou ser um revolucionário (o que hoje em dia já não vemos em lugar nenhum, mas que precisamos muito em nossa Igreja). Faltam líderes e revolucionários, gente disposta assim como Mandela a morrer por um ideal, por uma pessoa, Jesus Cristo.
Luiz Henrique I. Santos
