Coluna Jovem (Paulo de Lima)

02/07/2013 – 21h30

A vocação para a liberdade

“Liberdade, liberdade / és o desejo que nos faz viver.”

(Liberdade – Zé Martins)

Liberdade! É uma reflexão muito bonita! Mas, será que nós sabemos ser livres? E o que é ser livre? O que é essa tão sonhada liberdade que nós desejamos? Há muitas considerações a serem feitas, que não se esgotam nessas poucas linhas.

Se perguntarmos as pessoas, hoje, o que é ser livre a resposta será – principalmente dos jovens: “é fazer tudo o que eu quero e tudo o que eu penso!”. Mas se assim fosse, não teríamos tantos problemas no mundo. Todo mundo deseja ser feliz, todo mundo deseja amar e ser amado, logo, usaria sua liberdade condicionada a essas atitudes. Por outro lado “fazer tudo o que quero e tudo o que penso”, poderia ser um problema gravíssimo já que poderíamos fazer o mal, por conta da tendência ao mal que há dentro de cada ser humano. Isso São Paulo já nos advertia: “não faço o bem que quero, mas faço o mal que não quero. Ora, se faço aquilo que não quero, então já não sou eu que estou agindo[…]” (Romanos 7,19-20), já não sou livre como pensava. Ensina-nos o CIC (Catecismo da Igreja Católica) que “instigado pelo Maligno, desde o início da história o homem abusou da própria liberdade […] [mas] conserva o desejo do bem…” (CIC 1707).

Isso é muito sério! Nem sempre a nossa atitude pensada, que suponhamos ser livre, nos aponta para uma liberdade plena, ou nos dá condições necessárias de estarmos contentes, felizes, satisfeitos com a atitude, com a opção que fizemos.

Vemos as manifestações pelo nosso País, pelo mundo, onde se reivindicam a liberdade de expressão, a liberdade de ir e vir, etc, isso mostra apenas os aspectos de movimentos físicos, de espaço e tempo. Nós, como cristãos, também pensamos no dado antropológico-teológico, somos seres criados, e as criaturas não podem romper com o destino para o qual foram criados, mas o ser humano, por causa do seu livre-arbítrio, pode. É nessa condição que fazemos nossas opções e perguntamo-nos: Ser livre é fazer que opção? Ser livre, já respondendo, é fazer a opção pelo bem. Às vezes, como dizia o Papa-Emérito Bento XVI, somos escravos de falsas tendências – a “Ditadura do Relativismo1” – que dizem que estamos sendo livres. Tentam nos manipular, com as ideologias, numa falsa tendência de liberdade. Existe em cada um de nós uma lei moral intrínseca que diz: “faça o bem, evite o mal”2.

Quando eu realizo uma atitude boa, de verdadeira liberdade, há uma satisfação interior muito grande. Entendo que fui livre. Quando, pelo contrário, realizo uma atitude má, se tenho consciência plena desse ato, e a “lei moral” fala dentro de cada um, não nos sentimos bem. Um grande Santo, Doutor da Igreja, Santo Afonso Maria de Liguori(1696-

1787)3 assim se expressava: “não há maior tristeza do que uma consciência que se sabe pecadora de não ter feito o bem”. Quando optamos pelo mal, somos escravos, que em nenhum momento nos conduz à liberdade. Podemos decidir o que nos convém e o que não nos convém. E isso pode nos levar ou não ao prazer de viver. Ser livre é fazer sempre a opção pelo bem.

Um dado importante é a racionalidade de cada ser humano. Ao contrário dos animais não-racionais, nós, seres humanos, agimos com o auxílio da razão para administrar nossa liberdade. Nós temos as angústias da nossa vida, as tristezas e muitas vezes agimos no impulso das emoções. Vejam como muitos jovens resolvem seus problemas/dilemas, as coisas que são pequenas, ganham proporções imensas. E isso não nos torna livres. A emoção não nos leva a liberdade, nem a agir livremente. Aqui entra a razão. Ela deve ajudar a organizar as emoções, as tendências que as emoções nos colocam. Quantas vezes agimos com atos impulsivos que vão contra o amor, contra a própria liberdade e depois nos arrependemos profundamente? Quando nos damos conta tentamos fazer o tempo voltar atrás, aí já foi feito. Por quê? Porque agimos nos impulsos das emoções, deixando de lado a razão que me faz ser livre. Sempre teremos essas atitudes de insatisfação, de não realização, de tristeza que nos escraviza e isso tira de mim a liberdade, a qual Deus me deu, para que eu possa agir e viver melhor. Precisamos da ajuda de Deus. Somos criaturas, criadas livres, mas dependentes.

Vida e liberdade! Um binômio inseparável onde é preciso contar com a Graça de Deus que nos criou sua Imagem e Semelhando e nos deu o poder de decidir, de escolher especialmente o bem. “Deus criou o homem dotado de razão e lhe conferiu a dignidade de uma pessoa agraciada com a iniciativa e o domínio de seus atos. “Deus deixou o homem nas mãos de sua própria decisão” (Eclesiástico 15,14), para que pudesse ele mesmo procurar seu Criador e, aderindo livremente a Ele, chegar à plena e feliz perfeição”. (CIC 1730).

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Paulo de Lima– Licenciado em Filosofia/PUCRS

 

1 “[…] os desafios da sociedade hodierna não são menos exigentes, aliás, talvez se tenham tornado mais complexos. Se então havia a “ditadura do racionalismo”, na época atual registra-se em muitos ambientes uma espécie de “ditadura do relativismo”. Ambas parecem ser respostas inadequadas à maior exigência do homem, de usar plenamente a sua razão como elemento distintivo e constitutivo da própria identidade.” (Bento XVI. Audiência Geral. 05.08.2009). 2 “No fundo da própria consciência, o homem descobre uma lei que não se impôs a si mesmo, mas à qual deve obedecer; essa voz, que sempre o está a chamar ao amor do bem e fuga do mal, soa no momento oportuno, na intimidade do seu coração: faze isto, evita aquilo. O homem tem no coração uma lei escrita pelo próprio Deus; a sua dignidade está em obedecer-lhe, e por ela é que será julgado.” (Concílio Vaticano II. Gaudium et Spes nº 16). 3 Fundador da Congregação do Santíssimo Redentor – Missionários Redentoristas.