A Missa e a Enculturação

Texto: Paulo Roberto Ragnini

15/05/2013

 O documento base (documento nº 1), sobre liturgia, o Sacrossantum Concilium diz “a liturgia consta de parte imutável, divinamente instituída, e de partes susceptíveis de mudança” (SC 21). Quando diz da possibilidade de mudança, aponta e estimula para a adaptação da enculturação. Mas, o que significa enculturação?

É visível e faz parte de nossas conversas, que ao longo dos tempos, a cultura tem sofrido um crescimento e proporcionou uma evolução cada vez mais rápida. Claro que toda a rapidez é relativa! Essa evolução cultural atinge um ritmo sem precedentes, algo que seria impensável sem a proximidade das populações e, por conseguinte, das suas culturas, pela tecnologia.

Cultura é algo que se aprende, a vida em comunidade permite uma exposição a um maior número de hábitos – “pois a cultura é cumulativa – e, por conseguinte, há maior possibilidade de evolução”. Diversas comunidades por sua vez, levam, a uma maior comunicação e trocas culturais. Certos hábitos podem ser esquecidos, sendo substituídos por outros pertencentes a outras culturas, ou então substituídos por simples evolução cultural. “Podemos dividir a dinâmica cultural em três fatores – enculturação, aculturação e desculturação – que pertencem a um processo único e dinâmico que acontece continuamente e ao mesmo tempo”.

A rápida troca de informações que permite o contato de culturas diferentes faz com que todas elas sofram uma aculturação. Ao adquirirem novos hábitos culturais as culturas vão ficando mais enriquecidas, mas elas também podem perder muitos traços culturais.

 

Enculturação

“É o processo através do qual uma pessoa aprende as exigências da cultura na qual ela está inserida, e adquire valores e comportamentos que são tidos como apropriados ou necessários naquela cultura, quer informal quer formalmente. Este processo acontece informalmente de um modo contínuo, seja consciente ou inconscientemente, pois processa-se essencialmente pela imitação e pelo envolvimento com grupos espontâneos e instituições sociais”. “Trata-se de um termo típico do linguajar religioso e de recente utilização no discurso missiológico (missões)” e é indispensável para um trabalho missionário eficiente que se centra na verdadeira enculturação de Jesus e da sua mensagem.  Atividade Missionária, não se limita ao cristianismo, mas a todas as religiões estruturadas em igrejas, e que têm como objetivo mudar outras culturas nas suas vertentes religiosas, podendo incluir outros elementos culturais contrários aos seus princípios religiosos. Os missionários atuam diretamente sobre as pessoas, a título individual, e indiretamente sobre as instituições.

A cultura influencia o homem num processo contínuo de enculturação e de aculturação.

 

Aculturação

“O processo de aculturação acompanha e pode até sobrepor à enculturação”. São processos muito semelhantes, mas enquanto a enculturação é a aquisição de cultura por um membro dessa mesma cultura, a aculturação é a aquisição de elementos culturais de culturas externas.

 

Concluindo, enculturação em nossas celebrações é entender as exigências da realidade local (onde estamos inseridos) e adotar uma linguagem e postura atualizada, possibilitando e estimulando a comunidade paroquial. Porém, tomando o cuidado para não cair no relativismo, que é uma doutrina que prega que algo é relativo, o contrário de uma verdade absoluta. O papa emérito Bento XVI propõe que para combater o relativismo é necessária uma fé adulta, madura, “firmemente enraizada na amizade com Cristo”. Com a ação do Espírito Santo em nossas vidas, poderemos fazer a enculturação necessária em nossa comunidade, que é o pedido e a prática da própria Igreja.

Entre as várias afirmações apresentadas pela Igreja recentemente e pelas entrevistas de nossos cardeais, às vésperas da eleição do novo Papa, é consenso que a Igreja precisa de uma linguagem (uma forma de comunicação) mais atualizada, de uma nova metodologia. A linguagem de 30 anos atrás não atende as necessidades de hoje. Precisamos nos preparar, ou melhor, estarmos preparados para adotar uma nova linguagem (postura) no menor espaço de tempo. Será que o que serve para hoje, servirá para daqui a 10 anos? Assim como a linguagem de 20 anos atrás já não serve para nós hoje. O que não significa mudar as verdades ensinadas por Jesus e pela tradição da Igreja. Precisamos adotar uma postura de acordo com esta mudança de época. Isso é enculturação.